Após aprovar o polêmico vale-alimentação para os vereadores, a Câmara Municipal de Araucária tenta agora melhorar sua imagem com a doação de 157 computadores usados para a Secretaria Municipal de Educação. A entrega foi tratada com pompa, discursos e ampla divulgação institucional, como se se tratasse de um grande avanço para o setor educacional da cidade.
Os equipamentos doados são fruto da recente troca do parque tecnológico da própria Câmara, que optou por renovar suas máquinas e repassar as antigas às escolas municipais. O gesto, anunciado como “solidário e eficiente”, levanta uma dúvida incômoda: se os computadores ainda tinham condições de uso, por que foram substituídos? E se estavam obsoletos, que tipo de benefício de fato trarão às unidades escolares?
A ação evidencia uma contradição comum na administração pública: um discurso de modernização que não se sustenta na prática. Durante os pronunciamentos do presidente da Câmara e da secretária de Educação, falou-se muito sobre “avanços tecnológicos”, mas na Prefeitura de Araucária, licenças de softwares essenciais como o AutoCAD simplesmente venceram, deixando diversos setores sem acesso a ferramentas básicas de trabalho.
A incoerência é ainda mais visível quando se observa a estrutura da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Informação, hoje sob o comando de um secretário trazido de fora da cidade. A nomeação, ao que tudo indica, serviu apenas para cumprir acordos eleitorais, já que nenhuma inovação relevante foi implementada desde sua chegada.
Enquanto isso, o que se vê é um cenário marcado por sucateamento, improviso e propaganda oficial. A Câmara faz marketing em cima da entrega de máquinas antigas, enquanto os setores estratégicos da Prefeitura caminham rumo à estagnação tecnológica.
Em tempos em que a educação pública exige investimentos reais, planejamento e inovação, a doação de computadores velhos é mais um reflexo da falta de prioridades claras, e da insistência em fazer política com base na aparência, não na eficiência.
