O uso de cigarros eletrônicos, também conhecidos como “vapes”, tem crescido de forma alarmante entre os adolescentes paranaenses, especialmente nas escolas estaduais. Apesar de proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, esses dispositivos vêm se tornando populares entre os jovens, impulsionados por sabores atrativos, apelos estéticos e ampla divulgação nas redes sociais.

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019, 27,6% dos adolescentes do Paraná entre 13 e 17 anos já experimentaram o cigarro eletrônico. O Estado ocupa o segundo lugar no país com maior índice de uso, ficando atrás apenas do Distrito Federal. A média nacional é de 16,8%, o que evidencia um problema mais grave no território paranaense.

O cenário é ainda mais preocupante dentro das escolas estaduais. Relatos de professores, gestores e conselhos tutelares apontam um aumento significativo de apreensões de dispositivos eletrônicos nos últimos dois anos. A direção de alguns colégios relata que há casos de alunos utilizando os “vapes” dentro de banheiros, corredores e até em sala de aula, muitas vezes sem conhecimento dos pais.

ESTUDO REVELA RISCOS À SAÚDE

Pesquisadores do Laboratório de Fisioterapia Cardiovascular e Respiratória (Laficar) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) vêm conduzindo estudos sobre os efeitos do cigarro eletrônico entre jovens. Em um dos levantamentos realizados em 2024 com usuários de 20 a 24 anos, foi identificado um alto grau de dependência e prejuízos à capacidade cardiorrespiratória.

O estudo alerta para riscos sérios à saúde pulmonar, cardiovascular e neurológica, com possibilidade de desenvolvimento precoce de doenças como bronquite crônica, enfisema, hipertensão e até câncer. Apesar da percepção entre adolescentes de que o “vape” seria menos nocivo que o cigarro comum, os dados científicos desmentem esse mito.

ESCOLAS LUTAM CONTRA O PROBLEMA

Em novembro de 2024, a Assembleia Legislativa do Paraná promoveu uma audiência pública para discutir o avanço do uso de cigarros eletrônicos nas escolas. Representantes das secretarias estaduais de Educação, Saúde e Segurança Pública participaram do encontro, reconhecendo que o problema exige uma ação intersetorial urgente.

Durante o debate, foi destacada a falta de mecanismos claros para apreensão, registro e descarte dos dispositivos, bem como a ausência de campanhas preventivas amplas no ambiente escolar. A Patrulha Escolar da Polícia Militar, o Conselho Tutelar e o Ministério Público têm sido acionados com frequência para lidar com casos reincidentes.

O Colégio Estadual Monteiro Lobato, em Araucária, por exemplo, adotou medidas de reforço na fiscalização, incluindo instalação de câmeras em áreas estratégicas e abordagens educativas com os alunos. “O vape virou moda. Muitos acham que é inofensivo, mas não têm ideia dos prejuízos. Estamos tentando atuar de forma pedagógica e punitiva ao mesmo tempo”, disse a diretora da escola em entrevista ao portal O Popular.

ANVISA MANTÉM PROIBIÇÃO

Apesar de pressões da indústria para regulamentação, a Anvisa decidiu em abril de 2024 manter a proibição da fabricação, importação, comercialização e propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), com base em estudos que indicam a insuficiência de evidências sobre sua segurança e eficácia.

A agência também alerta que o uso entre jovens cresceu mais de 500% nos últimos 5 anos, acompanhando uma tendência global preocupante. Organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), também defendem a proibição e maior controle sobre esses produtos.

AÇÕES RECOMENDADAS

Para combater o avanço do cigarro eletrônico entre os adolescentes, especialistas recomendam uma estratégia de múltiplos eixos, incluindo:

  • Criação de campanhas de conscientização voltadas ao público jovem
  • Treinamento de professores e equipe pedagógica sobre o tema
  • Reforço na atuação da Patrulha Escolar e do Conselho Tutelar
  • Atendimento psicológico para jovens dependentes
  • Articulação com famílias e conselhos escolares

O problema, entretanto, demanda compromisso político e institucional, além de mobilização social. Sem isso, o apelo fácil e atrativo do cigarro eletrônico continuará conquistando espaço entre os jovens, com sérias consequências a médio e longo prazo.

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