O Paraná aparece entre os estados com maior número de denúncias de assédio sexual e moral no país. Os dados mais recentes revelam um cenário preocupante, especialmente dentro da área da educação, onde professores, estudantes e servidores têm sido vítimas recorrentes dessas violações.

PARANÁ LIDERA REGISTROS DE ASSÉDIO SEXUAL NO BRASIL

Em 2022, o Paraná registrou 1.013 boletins de ocorrência por assédio sexual, ocupando o primeiro lugar no ranking nacional. Os números refletem uma realidade muitas vezes silenciada dentro dos ambientes de trabalho, com destaque para o serviço público e, em especial, a rede estadual de ensino.

Entre 2011 e 2020, o estado contabilizou 2.245 denúncias de assédio moral ou sexual na administração pública. Muitas dessas denúncias partiram de mulheres que relataram situações de abuso por parte de superiores hierárquicos ou colegas, com destaque para o ambiente escolar.

ESCOLAS PÚBLICAS SÃO PALCO DE CENTENAS DE DENÚNCIAS

Somente entre janeiro e outubro de 2022, foram registradas 236 denúncias de assédio em escolas públicas paranaenses. Dessas, 141 apresentaram indícios de veracidade e resultaram na abertura de processos administrativos contra os suspeitos.

Os casos incluem desde comentários inapropriados até situações graves de coerção, perseguição e abuso de poder, afetando principalmente mulheres — alunas, professoras e funcionárias.

EM ARAUCÁRIA, CENÁRIO TAMBÉM É ALARMANTE

O município de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, não está fora desse panorama. Casos de assédio sexual em escolas públicas já foram registrados e ganharam repercussão local. Em um episódio de 2014, uma aluna de apenas 13 anos foi assediada por um colega dentro da Escola Municipal Maria Aparecida Saliba Torres. A direção da escola, após tomar ciência, acionou o Conselho Tutelar e os responsáveis para as devidas providências.

Além disso, dados do Tribunal de Justiça do Paraná apontam que, apenas nos últimos cinco anos, 165 processos foram abertos na comarca de Araucária por crimes de estupro de vulnerável e delitos semelhantes contra crianças e adolescentes. Os números revelam a urgência de medidas preventivas e educativas, especialmente no ambiente escolar.

Para enfrentar esse problema, o Ministério Público do Paraná realizou campanhas educativas no município, com mobilização de quase 10 mil estudantes e professores em ações voltadas à prevenção da violência sexual infantojuvenil.

COLÉGIOS CÍVICO-MILITARES SOB INVESTIGAÇÃO

Desde 2020, colégios cívico-militares do Paraná acumulam ao menos sete denúncias de abuso sexual envolvendo professores e monitores. Em alguns casos, as vítimas relataram toques sem consentimento, mensagens de teor sexual e ameaças veladas. A gestão desses colégios, compartilhada com policiais militares, tem dificultado o acesso à apuração transparente dos casos, segundo entidades da sociedade civil.

ASSÉDIO MORAL AFLIGE OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

O assédio moral também está presente nas instituições de ensino do estado. A APP-Sindicato, que representa os trabalhadores da educação pública, denuncia que a prática é recorrente e parte muitas vezes de direções escolares ou dos Núcleos Regionais de Educação. A imposição de metas abusivas, o desrespeito à autonomia docente e punições arbitrárias compõem um cenário de constante pressão psicológica.

A Secretaria da Mulher da APP aponta que o assédio atinge principalmente as mulheres e profissionais LGBTI+, agravando desigualdades já existentes na estrutura escolar.

IMPACTO DIRETO SOBRE A QUALIDADE DO ENSINO

Os efeitos do assédio dentro das escolas vão além do sofrimento individual. Estudos mostram que o clima de medo e insegurança prejudica o desempenho dos alunos, desestimula professores e provoca afastamentos por adoecimento psicológico. Casos de autoagressão e até ideação suicida entre estudantes já foram relatados por equipes pedagógicas.

GOVERNO ANUNCIA MEDIDAS, MAS DESAFIOS PERSISTEM

A Secretaria de Estado da Educação (SEED) anunciou medidas para acelerar a apuração de denúncias, como o afastamento preventivo de servidores acusados de assédio em até 24 horas após o protocolo. Também foram criadas campanhas de conscientização em parceria com a Controladoria-Geral do Estado (CGE) e a Escola de Gestão do Paraná.

Ainda assim, especialistas e entidades sindicais avaliam que as medidas são insuficientes frente à dimensão do problema. Falta estrutura para o acompanhamento psicológico das vítimas, além de protocolos claros para o acolhimento e proteção de quem denuncia.

O assédio moral e sexual no Paraná, inclusive em cidades como Araucária, exige ações firmes e contínuas. Garantir um ambiente seguro e respeitoso para profissionais e estudantes não é apenas uma obrigação legal, mas uma condição essencial para que o ensino público cumpra seu papel de formar cidadãos livres, conscientes e protegidos.

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