Durante as comemorações dos 135 anos de Araucária, o secretário municipal de Ciência, Inovação, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Tiago Francisco da Silva, fez questão de exaltar o avanço tecnológico da cidade. Em entrevista ao jornal O Popular, ele destacou a criação de uma secretaria exclusiva para inovação, a implementação de um novo sistema de gestão pública e a instalação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico — o chamado “Avança Araucária”. Segundo o secretário, a transformação tecnológica já começou e estaria colocando o município na rota de cidades inteligentes.
Entretanto, o que se vê na prática está longe de corresponder ao discurso. A Central da Cidadania, principal plataforma digital de atendimento ao cidadão, implantada em 2019 com a proposta de modernizar e desburocratizar o acesso a serviços públicos, enfrenta hoje um colapso silencioso. Diversos serviços sumiram do portal, enquanto outros apresentam falhas graves que impedem sua utilização. A mensagem que aparece ao tentar acessá-los é direta: “Indisponível”.

Entre os serviços que deixaram de funcionar corretamente estão:
- Emissão da guia do IPTU
- Solicitação de retirada de resíduos volumosos
- Solicitação de tapa-buraco
- Manutenção de iluminação pública
- Emissão de carteirinha da pessoa com autismo
- Consulta de processos administrativos
- Acesso ao Diário Oficial
Diante das reclamações, a Prefeitura emitiu um comunicado interno alegando que houve uma instabilidade no sistema e que a empresa responsável já teria sido acionada. No entanto, chama atenção o fato de que essa “instabilidade” tenha alterado o layout da página, escondido serviços essenciais e dificultado o acesso à informação de forma tão ampla e duradoura.
E esse não é o único setor que expõe o contraste entre o discurso tecnológico e a realidade do serviço público. No transporte coletivo, por exemplo, a população enfrenta ônibus lotados, atrasos frequentes e falhas nos aplicativos de consulta de horários, mesmo após anos de promessas de digitalização e integração plena do sistema. A modernização anunciada parece não ter chegado até quem depende do ônibus para trabalhar, estudar ou buscar atendimento médico.

A Central da Cidadania, que foi criada para simplificar e agilizar o atendimento, hoje parece desestruturada, tornando mais difícil exatamente aquilo que deveria facilitar: o acesso aos serviços públicos. O cidadão que antes resolvia demandas com poucos cliques, agora se vê forçado a procurar canais presenciais ou telefônicos, sem qualquer garantia de retorno.
Esse contraste entre a retórica da inovação e a realidade da precarização levanta dúvidas importantes. Afinal, se tanto se fala em modernidade, por que as ferramentas mais básicas de contato com a população foram deixadas de lado? Qual o real interesse por trás desse desmonte silencioso?
Enquanto a gestão investe em propaganda institucional para vender uma imagem de cidade digital, a população enfrenta na prática o peso de uma máquina pública que se mostra cada vez mais burocrática, lenta e distante.
A tecnologia que deveria ser ponte está virando barreira. A inovação, quando usada apenas como discurso político, não melhora a vida de ninguém — apenas mascara a desorganização. E o povo de Araucária, que deveria ser o principal beneficiário desse processo, continua padecendo à margem do “avanço”.
Acessado em: 02/06/2025 às 10h24min — https://araucaria.atende.net/cidadao