Na sessão desta segunda-feira na Câmara Municipal de Araucária, a diretora do Instituto de Desenvolvimento, Ensino e Assistência à Saúde (IDEAS), Sirlene Dias Coelho, fez um pronunciamento contundente sobre as condições do Hospital Municipal, que passou a ser administrado pela nova Organização Social desde 1º de maio. A gestora não poupou críticas à situação estrutural da unidade e questionou publicamente a responsabilidade da Prefeitura pelos problemas que se arrastam há mais de uma década.
Sirlene classificou como um “enorme desafio” o que encontrou ao assumir a gestão do hospital. Disse estar disposta a ajudar a população, que há 13 anos sofre com o descaso, e relatou ter feito uma pergunta direta a alguns vereadores: “Como é possível que um hospital tenha ficado neste estado por 13 anos?” Segundo ela, nem mesmo sabe se há resposta possível para essa realidade.
A diretora destacou que já houve tempos em que o hospital tinha certificado de qualidade, mas que hoje a estrutura física é precária. “Isso não é responsabilidade das OS”, afirmou, apontando a necessidade de esclarecer à população qual é, de fato, a função das organizações sociais e qual é a obrigação da administração pública.
Ela explicou que o contrato com o IDEAS não prevê reformas, obras, compras de equipamentos ou mobiliários. “Tudo isso é responsabilidade da Prefeitura”, reforçou. E exemplificou com um problema recorrente: “Desde o dia 1º de maio estão na porta da minha sala cobrando as condições das poltronas. É inviável tratar um paciente com as poltronas do jeito que estão. Então eu pergunto: quem vai resolver? A OS ou a Prefeitura?”
Sirlene fez um apelo por união e transparência. “Se não houver esse entendimento, serei apenas mais uma OS que passará por aqui sem conseguir resolver o problema do hospital”, alertou. Ressaltou que além das falhas estruturais, há também dificuldades graves nos fluxos assistenciais, na aplicação de protocolos e na gestão de pessoal. “Tem gente que precisa ser remanejada. São mais de 500 funcionários. Quero saber quem está disposto a fazer um bom trabalho.”
A diretora também fez denúncias graves sobre a legalidade do funcionamento do hospital. Informou que a unidade opera sem AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), sem alvará de funcionamento e sem alvará sanitário. “A pergunta é, por que o hospital está aberto sem esses documentos obrigatórios?”, questionou.
Sobre a estrutura física, relatou que há goteiras dentro da UTI e do centro cirúrgico, além de salas inteiras interditadas porque chove dentro. “Como eu posso fazer cirurgia num ambiente desses, sem risco de infecção hospitalar?”, indagou.
Outro ponto crítico levantado por Sirlene foi em relação à novela da aquisição de um novo tomógrafo, que se arrasta desde a gestão passada. Segundo ela, há um processo empenhado entre 2021 e 2022 no valor de mais de R$ 2 milhões para um equipamento de 64 canais, voltado a exames de alta complexidade, como neurologia. “Para o hospital que temos hoje, isso é desnecessário. Poderíamos ter comprado um de 16 canais e 32 cortes por metade do valor”, disse.
De acordo com a gestora, a secretária municipal de Saúde, Renata, informou que a empresa vencedora não instalou o tomógrafo por falta de estrutura física e elétrica na unidade. Agora, após tanto tempo, a empresa estaria pedindo um aditivo contratual para viabilizar a instalação. “Desculpa, gente, mas esse tomógrafo não vai sair tão cedo”, declarou Sirlene, informando que a solução emergencial será a locação de um equipamento. Mesmo assim, aguarda o laudo técnico para saber se a sala comporta o tomógrafo e se não há infiltração de água no local.
Por fim, Sirlene pediu apoio do Legislativo e da sociedade. “Eu não sou uma pessoa fácil. Do mesmo jeito que serei cobrada, eu também vou cobrar. Sozinha, não consigo. Tem muito trabalho pela frente. Mas eu preciso que me deixem trabalhar. Bater na minha porta todo dia pedindo cadeira ou poltrona não resolve o problema.”
O recado final da nova gestora do hospital foi direto: “Para o hospital funcionar, todos precisam estar com o mesmo objetivo, no mesmo caminho.”