Na sessão ordinária desta terça-feira (04), a Câmara Municipal de Araucária será palco de mais um episódio que desafia a lógica das prioridades públicas. A Indicação nº 1825/2025, de autoria do vereador Pastor Castilhos (PL), propõe que a Prefeitura crie um programa gratuito de acompanhamento psicológico para pessoas com vínculos afetivos patológicos com bonecas hiper-realistas do tipo “bebê reborn”.
Sim, você leu corretamente.
Enquanto faltam médicos nas Unidades Básicas de Saúde, consultas são canceladas por falta de profissionais, exames demoram meses para serem agendados, e a população sofre com a precariedade de estruturas físicas nas unidades de atendimento, o vereador insiste em tratar como prioridade um programa voltado a um tema que, até o momento, não possui qualquer estudo local, levantamento técnico ou demanda concreta que o justifique.
Em vez de fiscalizar e cobrar melhorias no sistema municipal de saúde, Pastor Castilhos opta por destinar tempo, energia e aparato legislativo a uma proposta que mais parece uma peça de ficção. A insistência nesse tipo de pauta revela um distanciamento preocupante das reais necessidades da população araucariense.
Não se trata de desmerecer questões de saúde mental, que são sérias e merecem atenção. O problema está na falta de foco e no uso do espaço legislativo para promover temas exóticos, enquanto a população continua enfrentando filas, diagnósticos atrasados, falta de especialistas e medicamentos indisponíveis.
A pergunta que fica é: para quem legisla o vereador? Porque, enquanto mães e pais aguardam vaga para atendimento pediátrico, gestantes esperam meses por ultrassonografias e idosos peregrinam atrás de consultas com especialistas, a Câmara vai debatendo… bonecas.
Não seria mais justo, mais urgente, e mais ético usar o mandato para enfrentar de frente os gargalos da saúde pública?
Em Araucária, infelizmente, parece que a fantasia tem vencido a realidade.