Em meio à comoção gerada pela onda dos chamados bebês reborn, nos deparamos com a tramitação de projetos na Câmara Municipal de Araucária que propõem destinar profissionais da saúde para atender pessoas que cuidam dessas bonecas como se fossem crianças reais. Enquanto isso, a realidade nas unidades de saúde do município escancara o completo descaso com as verdadeiras prioridades da população.
Temos pacientes reais, em sofrimento, ficando mais de 3 horas dentro de uma ambulância por falta de maca no Hospital Municipal de Araucária. Casos de espera por mais de 7 horas aguardando uma ambulância para transferência de pacientes também são recorrentes. Este é o retrato do nosso sistema de saúde: abandono, falta de estrutura e ausência de planejamento.
Para piorar, vereadores pagam mídia e impulsionamento nas redes sociais para tentar justificar projetos como esse, desviando o foco da crise real enfrentada diariamente pela população. É um espetáculo de autopromoção em cima do sofrimento do povo.
A pergunta que fica é: quais são as verdadeiras prioridades deste governo? Como é possível justificar um projeto que pretende mobilizar profissionais da saúde pública para atender pessoas que interagem com bonecas, quando não se consegue garantir o mínimo aos pacientes reais?
Mais grave ainda é o papel de um vereador que apresenta e defende esse tipo de proposta em pleno colapso do sistema. Esperamos que vereadores comprometidos com o interesse público, como Gilmar Lisboa do Sindimont (PT), se manifestem com clareza diante deste absurdo. Da mesma forma, acreditamos que parlamentares como Prof. Valter Fernandes (SDD) e Leandro da Academia (SDD) não compactuam com esta inversão de valores.
Deixemos claro: não somos contra o acolhimento psicológico ou terapêutico de qualquer pessoa, inclusive aquelas que, por razões clínicas, necessitem de acompanhamento. O que se contesta é o uso político, midiático e desconectado da realidade, que tenta surfar nas ondas das redes sociais enquanto falta o básico à população.
O povo de Araucária merece respeito. E isso começa por priorizar vidas reais, não likes.